Em plena seca que se iniciara em 1979, e que segundo as previsões só terminaria em 1985, JOSÉ IVO DE SOUZA em seu versejar simples deu seu recado nos versos a seguir:
Seu dôtor escuta um pouco
as palavras desse caboclo
que mora aqui no sertão
querendo dizer a ti
o que sofremos aqui
sem chuva no nosso chão
dois anos já se passaram
de seca estalando a terra
e o pior seu dôtor
é que não sei quando encerra
essa seca danada
Que obriga nossos filhos
pegar logo uma estarda
e vão saindo, saindo
com pouco não tem nenhum
fica só os dois veim
escutando o zum, zum, zum
os dois veim
que eu falo
é eu e minha mulher
que ficamos por aqui
com a esperança de pé
que a chuva logo regresse
pra isso não falta prece
ao divino São José
Setenta e nove e oitenta,
dois anos seco danado
que o povo já não aguenta
viver mais neste estado
que pra o gado
já não tem pasto
pros pobres não tem feijão
e além de tudo eu acho
que tá longe a solução
de vê isto aqui irrigado
comer abundante pro gado
com chuva no meu sertão
Pois os homens letrados dizem
que só chove em oitenta e cinco
e tô quase acreditando
pois faz dois aos que sinto
e que vejo nascer o sol
todo dia vermein
dizendo que a barra pré chuva
continua muito ruim
aqui mesmo em Lagoa de Velhos
a seca tá a dois anos
matando gado, somente,
mudando o povo de plano
que os que queriam ficar
agora vão viajar e eu fico meditando
O povo parte pro Sul
alguns até pra coréa
pode ir até minha véa
que eu fico aqui sozinho
eu ficar aqui sozinho
digo mais não aguento
mais vou perguntar pra minha véa
qual é o seu pensamento
pode ela querer imbarcar
e eu não vou ficar
tratando só de jumento
A jumentinha eu vendo
vendo os porco e as galinha
vendo a cabra de dá leite
pro sustento de Licinha
e lá onde for morar
sei que Deus vai me ajudar
pra que eu possa comprar
de tudo outra cabecinha
eu digo assim seu dôtor
mas este caboclo véi
não usa esse pensamento
a jumentinha eu não vendo
o porco nem as galinha
a cabra não tem negócio
que é quase a mãe de Licinha
e oitenta e um é de inverno
e eu vou comprar um terno
pra andar na jumentinha
Assim se expressou JOSÉ IVO DE SOUZA, no seu linguajar simples e sentido, de quem vive a realidade de sua terra e de sua gente.
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