13/03/2015

Dólar comercial fecha a R$ 3,250, maior valor em quase 12 anos; previsão de R$ 3,50 na próxima semana

MARKETS-FOREX_Depois de atingir R$ 3,281, o maior nível desde 1º de abril de 2003 (R$ 3,3130) — início do governo Lula —, o dólar comercial fechou em alta de quase 3% em toda a tarde desta sexta-feira. A moeda americana teve alta de 2,81% diante o real, a R$ 3,248 na compra e a R$ 3,250 na venda. Esse é o maior valor de fechamnento para a divisa desde os R$ 3,255 de 3 de abril de 2003. Pesaram para essa forte valorização a expectativa de juros nos Estados Unidos e, principalmente, a incerteza política, agravada com o clima de menor popularidade do governo Dilma, que pode piorar com as manifestações marcadas para domingo.
Para analistas, o quadro político antes das manifestações previstas para hoje — a favor do governo Dilma — e domingo — contra o governo pesa sobre o dólar. Além disso, aumenta a percepção de que o governo considera o câmbio flutuante e não deve intervir para alterar a oscilação da moeda americana.
Ao mesmo tempo, o mercado segue o cenário externo, na expectativa da reunião dos conselheiros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na próxima semana. Mas há quem admita que a forte alta de hoje também esteja ligada a especulações, mais comuns principalmente às sextas-feiras. O baixo volume de negociações também contribui para a oscilação.
Nas casas de câmbio, o dólar turismo já é negociado a R$ 3,70 no cartão pré-pago, valor que inclui IOF de 6,38%. No cartão pré-pago, a cotação variava, já com imposto, de R$ 3,55 a R$ 3,70, de acordo com uma pesquisa feita pelo GLOBO em cinco casas de câmbio. Em espécie, a moeda americana variava entre R$ 3,40 e R$ 3,49, também incluindo o IOF de 0,38%.
— Além da influência externa, com valorização em todo o mundo, o dólar é puxado pela instabilidade política. Há expectativa com as manifestações de domingo e seu desdobramento. O mercado está se protegendo, fazendo hedge (operação de proteção da moeda), sejam os investidores ou as empresas — diz o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.
Para o analista da Clear Raphael Figueiredo, a tendência mundial de valorização, o clima político e o risco de recuo da classificação de risco do Brasil são alguns dos fatores que puxam o dólar para cima. Ele admite, no entanto, que pode haver uma certa especulação hoje.
— Os Estados Unidos podem subir os juros antes do previsto e temos um cenário de incerteza no mercado doméstico, com risco de perda de rating e o clima político, com manifestações no fim de semana. O dólar passou de R$ 3,20 e não tem sinal de topo. Mas hoje parece mesmo haver um perfil mais especulativo — afirma Figueiredo.
PREVISÃO DE R$ 3,50 NA PRÓXIMA SEMANA
O gerente da mesa de câmbio da Icap Brasil, Italo Abucater, afirma que é o cenário doméstico que contribui para uma valorização do dólar muito mais intensa aqui no Brasil que em outros mercados. Para ele, a moeda passa de R$ 3,50 na próxima semana:
— Fatalmente o dólar vai a R$ 3,50 na próxima semana e vai continuar testando novos limites. O Banco Central não deve renovar as operações de swap e os gringos também estão vendendo — diz Abucater.
Para além das razões que contribuem para a valorização do dólar. Abucater admite que há uma parte de especulação nesta alta expressiva desta sexta-feira:
— Tem um lado psicológico das sextas-feiras, um dia em que o mercado fica normalmente mais sensível. E ainda temos as manifestações do fim de semana. Existe movimento também de especulador.
O clima também é de pessimismo na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), embora queda tenha perdido o fôlego. O índice Ibovespa, que reúne as principais ações da Bolsa, recuava 0,64 pouco antes do fechamento, para 48.567 pontos.
Há queda em ações líderes, como Petrobras e bancos. Petrobras PN (preferencial, sem direito a voto) perdia 2,35%, a R$ 8,30, enquanto Petrobras ON (ordinária, com voto) tinha queda de 1,81%, a R$ 8,13, por causa das consequências da operação Lava-Jato. As preferenciais do Itaú caíam 0,44%, a R$ 33,85, enquanto as do Bradesco recuavam 0,85%, a R$ 33,79.
Na Bolsa, o analista da Clear explica que há um clima de apreensão e cautela, tanto com os desdobramentos da operação Lava-Jato e com as manifestações.
— Os investidores estão optando por não se expor ao risco — diz Figueiredo.
Levantamento da agência Bloomberg com 16 moedas — incluindo euro e libra, entre outras — mostra que 13 perdem valor frente ao dólar, com o real liderando como a maior perda.
Em meio à alta do dólar, as ações de empresas exportadoras se destacam na Bovespa. Os papéis da Fibria Celulose sobem 4,01%, para R$ 41,41, enquanto da Suzano Papel e Celulose avançam 4,06%, a R$ 14,37. Klabin também tem alta, de 2,54%, para R$ 18,18. A ação da CSN sobe 2,82%, para R$ 14,20, enquanto Marcopolo tem ganho de 2,59%, para R$ 2,38. Investidores nos ganhos para as exportações dessas companhias diante da valorização do dólar.

BANCOS ELEVAM PROJEÇÕES DE CÂMBIO

Nesta sexta-feira, os bancos Itaú Unibanco e Goldman Sachs elevaram projeções para o dólar comercial no país. O Itaú subiu a taxa de câmbio prevista para o fim deste ano de R$ 2,90 por dólar para R$ 3,10, enquanto em 2016 a moeda americana será vendida a R$ 3,40 em vez de R$ 3,00. Já o Goldman Sachs elevou suas previsões para a cotação do dólar no Brasil nos prazos de três, seis e 12 meses, de R$ 2,75 para R$ 3,20, de R$ 2,80 para R$ 3,25 e de R$ 2,85 para R$ 3,35, respectivamente.
O Goldman Sachs também elevou previsões para a moeda europeia. Agora, a projeção é de que chegará a US$ 0,80 no fim de 2017.

O Globo

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