27/09/2017

THE END: Palocci cita ‘a cena mais chocante do desmonte moral’ de Lula

“Nós, que nascemos diferentes, que fizemos diferente, que sonhamos diferente, acabamos por legar ao país algo tão igual ao pior dos costumes políticos.”
A frase acima é de Antonio Palocci, um dos fundadores do PT e principal responsável por levar Lula, a figura maior do petismo, ao Planalto, em 2002, e está registrada em seu pedido de desfiliação da legenda, redigido nesta terça-feira, 26.
A data é histórica para o PT e para Palocci, que completa nesta terça um ano de prisão na Operação Lava Jato.
Na mais dura autocritica de um grão duque do PT, Palocci narra “a fatídica reunião na biblioteca do Alvorada, onde Lula encomendou as sondas e as propinas, no mesmo tom, sem cerimônias”.
“Cena mais chocante que presenciei do desmonte moral da mais expressiva liderança popular que o país construiu em toda nossa história.”
No dia 6 de setembro, Palocci confessou ao juiz federal Sérgio Moro, da Lava Jato, em Curitiba, seus crimes e incriminou Lula, confirmando uma “pacto de sangue” entre o ex-presidente e o empresário Emílio Odebrecht.
No depoimento, o ex-ministro também contou sobre cobrança feita por Lula para ele, para ex-presidente Dilma e para o ex-presidente da Petrobrás José Sergio Gabrielli de propinas nos contratos de construção de sondas perfuração marítima para exploração de petróleo do pré-sal.
“Um dia, Dilma e Gabrielli dirão a perplexidade que tomou conta de nós após a fatídica reunião na biblioteca do Alvorada, onde Lula encomendou as sondas e as propinas, no mesmo tom, sem cerimônias, na cena mais chocante que presenciei do desmonta moral da mais expressiva liderança popular que o país construiu em toda nossa história.”
Pantanoso. Responsável pela Carta ao Povo Brasileiro, que em 2002 deu a Lula condições de virar presidente da República, depois de três tentativas frustradas, a “carta ao PT” é endereçada à presidente nacional do partido, senadora Gleisi Hoffmann.
Mais que um pedido de desfiliação, a carta ao PT é uma resposta ao que chamou de “tribunal inquisitório” interno instalado, após ele confessar seus crimes à Justiça, e uma bomba endereçada a Lula.
Nas quatro páginas digitadas, com assinatura de próprio punho, Palocci faz duras críticas a Lula. “Sei dos erros e ilegalidades que cometi e assumo minhas responsabilidades. Mas não posso deixar de destacar o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da política no melhor dos momentos de seu governo.”
O ex-ministro listou o “pleno emprego conquistado, a aprovação do governo a níveis recordes, o advento da riqueza (e da maldição) do pré-sal, com a Copa do Mundo, com as Olimpíadas”.
“‘O cara’, nas palavras de Barack Obama, dissociou-se definitivamente do menino retirante para navegar no terreno pantanoso do sucesso sem crítica, do ‘tudo pode’, do poder sem limites, onde a corrupção, os desvios, as disfunções que se acumula são apenas detalhes, notas de rodapé no cenário entorpecido dos petrodólares que pagarão a tudo e a todos.”
Palocci confirma suas confissões à Justiça na carta ao PT e informa que após sua negociação de delação premiada poderá dar maiores detalhes ao partido sobre os crimes nos governos Lula, a quem chama de autoproclamado “homem mais honesto do país”.
“Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto do país’ enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!) são atribuídos a Dona Marisa?”
Verdade. Fundador do PT há 36 anos, um dos primeiros prefeitos eleitos pelo partido e homem forte dos governos Lula e Dilma no trato com o empresariado e o setor financeiro, Palocci diz que o partido preside reconhecer seus erros.
“Chegou a hora da verdade para nós. De minha parte, já virei a página. Ao chegar ao porto onde decidi chegar, queimei meus navios. Não há volta”, afirma Palocci.
“Sob o ponto de vista político, estou bastante tranquilo em relação a minha decisão. Falar a verdade é sempre o melhor caminho. E, neste ano, não posso deixar de registrar a evolução e o acúmulo de eventos de corrupção em nossos governos e, principalmente, a partir do segundo governo Lula.”

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